Guardiãs da memória e da herança africana, as rezadeiras, curandeiras e benzedeiras representam uma rica tradição espiritual e cultural presente nas comunidades cariocas. No Morro da Mangueira, essas mulheres são figuras centrais na vida religiosa e comunitária, utilizando suas práticas de cura, aconselhamento e proteção espiritual à população local. Utilizando de orações, benzimentos e ervas medicinais, combinando muitas vezes elementos presentes no catolicismo popular com influência de religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, as “tias” do morro, em suas práticas, materializam o sincretismo religioso tão comum na cultura brasileira.
Passadas de geração em geração pela tradição oral, suas rezas e rituais podem ser usados para afastar “mau-olhado”, curar doenças, trazer paz às famílias, atrair coisas boas e melhorar a energia dos locais. Pensando especificamente o papel dessas rezadeiras no morro da Mangueira, entendemos a importância que elas assumem na comunidade. Como muitas favelas do Rio de Janeiro, a Mangueira enfrenta desafios sociais e econômicos, o que coloca as rezadeiras como guardiãs de saberes tradicionais e promotoras de conforto tanto emocional quanto espiritual, atendendo as urgências de seus vizinhos que muitas vezes não conseguiam chegar a hospitais, o que as coloca como agentes na criação de laços de solidariedade e reforço da identidade coletiva.
Mesmo com as transformações urbanas e avanço da modernidade, a imagem dessas mulheres continua sendo vista como uma ponte entre o sagrado e o cuidado cotidiano. Sendo respeitadas por sua sabedoria e dedicação, essas mulheres, em sua maioria mulheres negras, são valorizadas como parte fundamental da cultura do morro e da memória popular carioca. Mesmo que hoje não se consiga manter o contingente de rezadeiras no morro, muitas já falecidas são rememoradas com carinho pelos moradores mais antigos, que sempre guardam em suas recordações uma história carinhosa para compartilhar, seja da Vovó Lucíola, Nininha, Dona Neném, Dona Emerenciana- que prefere ser chamada de Diara-, Dona Luzia, Dona Miúda ou tantas outras, que os nomes acabaram por se perder na transmissão histórica pela oralidade.
Curadoria: Maryane, Ivie, Emelyn e Gabriela.